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quinta-feira, 22 de abril de 2010

The Hurt Locker

Finalmente assisti "The Hurt Locker" - os tradutores de títulos (lembro de ter lido uma vez que existe uma espécie de comitê para-estatal que faz isso) não conseguiram se sair com nada melhor do que "Guerra ao Terror" - e é um grande filme.
A repercussão que causou só prova que a internet, apesar de tão útil e divertida, também pode ser tão aborrecida quanto uma reunião de condomínio. Acompanho alguns blogs de veteranos do Iraque e do Afeganistão, e todos eles têm uma opinião forte a respeito do filme - normalmente, ruim, porque, afinal, o filme não é igual a experiência deles; algumas coisas estão "erradas" (desde bobagens como detalhes do uniforme); em geral, porque os exageros dramáticos ofendem a perspectiva naturalmente dogmática e meio robótica dos militares.

De um lado, consigo entender de onde eles tiram tanta força para falar mal do filme, já que estiveram lá, correram riscos, passaram não só pelo processo de virar um soldado, que já deve ser dose, mas foram colocar todo o treinamento na prática, em situações de risco extremo etc. De certa forma, devem considerar que, depois disso tudo, o mínimo que merecem é um filme "preciso" sobre o que se passou com eles.
De outro lado, é meio ridículo sustentar isso, justamente porque nem mesmo um documentário poderia ser tão "preciso" (aliás, até poderia, mas só interessaria a uma parcela muito pequena de gente, e não teria a mesma graça),quanto mais um filme de ação. Um desses blogs tem a melhor resenha escrita por um veterano entre as que eu li. O cara sabe separar as coisas e entende que o fato de haver algumas incorreções não torna o filme necessariamente ruim. O resto do blog também vale a leitura, o cara escreve muito bem (vide http://armyofdude.blogspot.com/2009/11/thing-i-carried-special-edition.html e http://armyofdude.blogspot.com/2009/01/sensing-combat-hearing.html e os quatro textos subseqüentes).

O artigo da wikipedia sobre o filme tem vários exemplos dessas críticas, o que imediatamente me fez pensar em como nunca se cogitou qual teria sido a repercussão de filmes de todas as outras guerras entre os veteranos delas, e, quando muito, no máximo eles falaram sobre a experiência que viveram e nem se deram ao trabalho de comprará-la com o filme (ex: Band of Brothers; Black Hawk Down com o documentário da PBS nos extras).

Claro, esse negócio todo de internet, blogs e, especificamente, "milblogs", é muito novo. Ia acontecer uma hora ou outra - mas é difícil imaginar veteranos do 8º Exército amargurados, reclamando que se sentem desrespeitados porque o Romell de "Cinco Covas no Egito" não é parecido com o original, ou qualquer coisa parecida.

Seja como for, "The Hurt Locker" é bem melhor que "Stop Loss", o qual retrata a sacanagem que fizeram com muitos soldados, aumentando arbitrariamente o tempo de serviço por causa de falta de pessoal. No fim, o cara entende que meio que a única coisa decente a fazer é ir para a guerra de novo com os camaradas.

Voltando a Hurt Locker (uma alusão ao engradado com peças de bombas que o protagonista guarda embaixo da cama), antes de assistir o filme eu li diversas resenhas e vi aquela cena do cara tentando escolher sucrilhos no mercado, e já sabia mais ou menos do que se tratava - o cara volta da guerra e sente falta da adrenalina dos combates, a vida fica uma coisa meio banal .(Isso me lembrou uma entrevista antiga do Herbert Vianna, numa Bizz, dizendo que entendia porque muitos 'artistas' cheiram: "o cara vive na adrenalina de tocar pra milhares de pessoas, aí volta pra casa, a mulher pede pra ele tirar o lixo, ele espera a adrenalina e ela não vem"). O maior mérito do filme certamente é não ter nada daquilo de "luta pela liberdade", ou "luta pelo meio americano de vida", mas quase não acreditei, quando outra pessoa que assistiu antes de mim perguntou se eu já havia visto o filme, e eu disse que não mas que tinha uma vaga idéia de que era sobre a "abstinência de guerra", e citei a cena do sucrilhos, e a pessoa me jurou que não era nada disso, que o filme era sobre a defesa do "american way of life" - e não é, mesmo, e é por isso que é tão bom. Como "Despachos do Front", trata da experiência dos soldados - a perspectiva, afinal, mais verdadeira que pode haver sobre o assunto.
Confesso que justamente por isso torci para que o filme ganhasse os Oscars - eu ainda não havia assistido, e também não vi "Avatar" e nenhum outro concorrente, e o Oscar é meio uma bobagem etc., mas há algo bom em um filme de guerra honesto ganhar prêmios importantes, como se fosse uma "Silver Star" por bravura.

domingo, 30 de agosto de 2009

War is a drug

Cada guerra tem sua safra de filmes, e a guerra que vigora no oriente médio não é diferente. Vários filmes e até séries da TV a cabo já foram feitos. Das séries, assisti "Over There", e me pareceu uma série bem-feita. Dos filmes, vi um só, "Stop Loss", que também me pareceu bom. Digo "pareceu" porque tendo um contato relativamente próximo com o que acontece lá, ao menos da perspectiva de um soldado (meu cunhado é soldado - ou melhor, sargento! - do exército dos EUA), gostando de assuntos de guerra e tendo lido blogs informativos e excelentemente escritos como o www.armyofdude.blogspot com (o texto é muito bom), tive acesso a algumas perspectivas que...er, põem os filmes em perspectiva.

Como qualquer filme. Seja como for,me peguei a pensar na resehna escrita sobre o filme "Hurt Locker" e a frase que acompanha o título, "war is a drug".

A explicação fala por si só. Os pessoas ficaram expostas a situações de vida-ou-morte que embora durassem 10 minutos pareciam durar 10 anos, ouvindo balas zunir a centímetros de capacetes que deveriam garantir suas vidas, embora nenhum deles quisesse testar (ou qualquer outro clichê escrito a respeito de qualquer outro soldado em qualquer outra guerra). Obviamente sabem mais a respeito do que aparece no filme do qualquer um que não tenha estado lá.

E depois que voltam daquela "situaçã", ficam sentindo falta daquilo a que seus corpos e mentes estavam acostumados: a adrenalina de correr risco de morte, o coração " a milhão" em meio a um tiroteio, a visão de túnel naquele momento decisivo, focalizada em um único e palpitante ponto a uns 200m de distância.

Depois de voltar "ao mundo", como se acostumam com a ausência de tal mister diário? Tão diário quanto levantar da cama, tomar banho e bater o ponto em um emprego qualquer? Parece ser o mote do tal "Hurt Locker", e lança uma interessante questão: o cara doidão de guerra depende de decisões de estado pra conseguir o seu "fix". Qualquer fumador de pedra arruma uma pedra na esquina, a acaba morto quando a dívida cresce demais.