quinta-feira, 17 de setembro de 2009

OUR MOTTO IS: APOCALYPSE NOW

Café da manhã? Apocalypse now.

"Saigon. Shit, I´m still only in Saigon. Everytime I think I´m gonna wake up back in the jungle..."

Que graça pode ter algum filme de guerra depois desse? Talvez o Ryan, pela abertura e pela aparência magnífica, a areia grudada na lapela de uma autêntica farda ranger, a textura da tinta nos capacetes, e recuo dos fuzis, aquela cena em que o protagonista vê as comodidades do QG (café, sanduíche, um sujeito fazendo a barba) enquanto explica o quanto passou o horário de expediente se fodendo. E a parte do disco da Edith Piaf. Tem diálogos ótimos. "Tora, Tora, Tora" é quase um documentário. O mais longo dos dias só vale pelo Duke. "Iron Cross" é bom, mas autoral demais...as partes em câmera lenta e os devaneios não colam tão bem. Dos novos, "Black Hawk Down" é excelente. "Platoon" é um filme versátil sobre a guerra do Vietnam, e "Full Metal Jacket" é um soco no estômago.

Mas "Apocalypse Now" está em outro patamar. É doido demais. É a adaptação de "Despachos do Front" para o cinema. Já se tem uma idéia da loucura pela cena logo no começo, com o Indiana Jones nervoso tentando explicar a um capitão das forças especiais os motivos de uma missão muito louca - "charging a man with murder was like handing speeding tickets in the Indy 500". "Coração das Trevas" já é um puta livro, misturado com "Despachos" vira uma espécie de napalm cinematrogáfico, gasolina gelatinosa na película, que não gasta nunca. É uma porrada sempre. A guerra do Vietnam gerou três obras psicodélicas da mais alta qualidade. "Apocalypse", "Dispatches" e um quadrinho chamado "Guerra de Luz e Trevas". Diz que até hoje se tropeça em cápsulas de bala de fuzil, pistola, canhão, restos de helicópteros Huey e bobardeiros B-52 no interior do Vietnã. Não tem uma guerra com histórias mais improváveis. A história da guerra da criméia é sobre a carga da cavalaria ligeira. Das guerras napoleônicas, waterloo, a retirada da rússia, o egito. Peloponeso, guerras púnicas, Anibal cruzando os alpes com elefantes etc. - nada supera o soldado amaericano chapado, vagando de helicóptero sobre a selva tropical, ouvindo Hendrix, um destacamento de 10 forças especiais e 300 montagnards em um morro, cercados, lurps e a air cav, saigon...shit.

A versão do diretor funciona bem na primeira vez, e nas subsequentes parece que sobram algumas coisas. A parte com os franceses dá uma matada no andamento do filme, é quase um "intermission" como há em "Patton". A parte das coelhinhas dentro do helicóptero podia durar um pouco menos. Mas, no conjunto, continua matador. O que tem a mais com o Kurtz vale cada centavo.

São poucos os filmes para se agradecer. Esse é um deles. Nas resenhas falam em ser o filme mais "anti-bélico" de todos os tempos. Mas é mais do que isso. Desperta "instintos primitivos", como diria o Roberto Jefferson: ao mesmo tempo, a glória e o horror da guerra, em uníssono com o tom de "Despachos". O mensagem subliminar é a seguinte: é impossível descrever a guerra sem glorificá-la. É impossível sentir apenas nojo.

É um lugar comum dizer "assista Apocalypse Now", então direi "assista Apocalypse Now redux".